Fonte: Agência Senado, visitado em 16/10/2012. Endereço:
A participação dos cidadãos no dia a dia da política é tão importante para a democracia que justifica até mesmo o voto obrigatório. É o que pregou o filósofo francês Francis Wolff na noite de quarta-feira durante debate sobre o apolitismo, o primeiro do Fórum Senado Brasil 2012, que prossegue nesta quinta-feira (21).
Wolff acredita que quando a população se distancia da política, de cara abre espaço para a ação de políticos pouco interessados no bem-estar da comunidade. Num horizonte mais longo, essa ausência de interesse acaba por levar ao autoritarismo, quando não à instalação de regimes ditatoriais.
O voto obrigatório, ainda que pareça antipático, e para muitos uma porta aberta à manipulação de massas desinformadas, instaria os cidadãos ao seu dever de participar da política, pelo menos em época de eleições. O filósofo mencionou com preocupação os números da abstenção registrados nas recentes eleições presidenciais legislativas francesas: 42,7% no primeiro turno e 44% no segundo turno, sendo cerca de 50% no caso dos jovens. Naquele país , o voto é facultativo.
Em entrevista ao Jornal do Senado reproduzida pela Agência Senado, o filósofo citou outros mecanismos destinados a tornar mais legítimos os resultados eleitorais. A Sérvia, por exemplo, aprovou recentemente uma lei que anula as eleições quando a porcentagem de votos brancos e nulos atinge certo patamar.
Consumismo
– A conquista da democracia mobiliza toda a sua energia, mas a posse o aborrece – afirmou o filósofo, que é professor da Escola Normal Superior de Paris.
Para Francis Wolff, o apolitismo pode se manifestar de diversas formas, desde a abstenção eleitoral até o consumismo exacerbado. Curiosamente, esse desinteresse seria uma consequência do individualismo gerado pela liberdade alcançada com o advento da democracia, o que o distingue do egoísmo. Ao adquirir mais liberdade, o indivíduo diminui sua dependência da comunidade, mas o que é a princípio um benefício gera depois o que Wolff chama de “efeito colateral”.
Na opinião do filósofo, isso faz com que as pessoas se excluam da vida pública considerando a ampla liberdade de atuação que conquistaram na vida privada. Mas como “não há vácuos de poder”, segundo Wolff, os cidadãos entregam seu poder de decisão a “políticos profissionais”. Sem cobranças, esse grupo fica livre para aprovar ou impor medidas distanciadas das verdadeiras necessidades e desejos dos cidadãos.
Brasil
Wolff considera o período em que lecionou no Brasil, entre 1980 e 1984, o mais importante de sua vida política, quando assistiu a transição do país à democracia – um processo, a seu ver muito bem-sucedido. Segundo ele, a ditadura forçosamente transforma tudo em política, se apropriando de dimensões como amor, esporte e arte para ações a seu favor, reduzindo a política formal a um “jogo de fantoches”.
Como exemplo, Wolff lembrou que em 1970, no auge do regime militar, intelectuais brasileiros diziam que o Brasil não podia ganhar a Copa do Mundo, pois o feito daria força à ditadura. Com a vitória do Brasil, lembrou, parecia “só haver futebol” no país:
– Mas será que não havia algo de político nessa paixão? – questiona.
Agência Senado
(Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
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