Marina Silva - Mensalet
Fonte: Folha de S. Paulo , visitado em 24/05/2013. Endereço:
“Aqueles que corrompem a opinião pública são tão funestos como
aqueles que roubam as finanças públicas”. (Adlai
Stevenson )
Na reflexão da ex-senadora Marina Silva, a
mídia convencional possibilitava condução da opinião pública por informar
verdades parciais de forma tendenciosa (os autores podiam ser responsabilizados
por inverdades).
A internet inova pela liberdade e velocidade,
mas possibilita a condução da opinião pública por disseminação de mentiras e interpretações
distorcidas (os autores acham que não podem ser responsabilizados) realizadas
por meio de perfis de usuário falsos.
“No universo das mídias, as virtudes da
credibilidade e a opinião informada convivem com os vícios dos preconceitos,
mentiras e desinformação.” (Marina Silva)
Mensalet
Por
Marina Silva*
Nos anos
da ditadura militar, vivíamos sob censura. Liberdade de imprensa era um sonho,
às vezes regado com lágrimas e sangue. Conquistada ao menos uma parte da
liberdade, passamos a lutar contra o monopólio das mídias, o controle de poucas
pessoas e empresas, a filtragem política e econômica das notícias e o resultado
perverso: manipulação da opinião pública.
O caso clássico, que muitos lembram com certa nostalgia, é a edição do debate
entre Lula e Collor nas eleições de 89. A seleção dos trechos que prejudicavam
Lula ficou, na indignação de seus partidários e da opinião pública, como
exemplo de uso criminoso da mídia a ser sempre repudiado.
Agora temos a internet, com liberdade e velocidade antes inimagináveis. A militância dirigida, de partidos e outras organizações, é confrontada pela nova militância autoral de indivíduos livres para defender as causas que escolhem. Também a imprensa tradicional tem que disputar opinião pública com um jornalismo autoral, avulso e diversificado.
No universo das mídias, as virtudes da credibilidade e a opinião informada convivem com os vícios dos preconceitos, mentiras e desinformação.
Dois mundos, real e virtual, se interpenetram, com invasões súbitas. Nesta semana, uma onda de pânico levou os beneficiários do Bolsa Família aos bancos, com o boato de sua extinção se espalhando sem origem nem autoria. Segue-se a troca de acusações e os donos das pranchas políticas tentam "surfar" na onda.
Acontece
que o atraso também buscou o novo ambiente. Nesta semana, quando a edição
maldosa do "Diário de Pernambuco" me acusando de defender o deputado
Feliciano e suas ideias equivocadas ainda nublava algumas mentes e corações
bem-intencionados, surgiu outra difamação tentando me associar a um criminoso
do Paraná. Ao respondê-la, localizei um perfil falso que disseminava a mentira
para vários sites. Depois encontrei outros perfis falsos, agindo coordenados.
Na eleição de 2010 já era visível essa militância dirigida, que depois se
profissionalizou. Várias organizações mantêm suas brigadas digitais, com
"editores" dos debates e notícias cujos critérios são os interesses
de seus patrões. Uma investigação detalhada poderia mostrar essa espécie de
"mensalão da internet", uma indústria subterrânea da calúnia.
Pessoas melhor informadas não se enganam, especialmente quem viveu o tempo da censura e viu os casos de manipulação da mídia. Mas ainda há muita gente que não verifica as fontes e se assusta com boatos.
Enquanto esses esquemas não se tornam mais visíveis, vamos navegando e cultivando a democracia como um ambiente de aprendizado, de persistência em busca da verdade. Só ela pode honrar a liberdade que lutamos para conquistar.
* Marina Silva, ex-senadora, foi
ministra do Meio Ambiente no governo Lula e candidata ao Planalto em 2010.
Escreve às sextas na versão impressa da Página A2.
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